Jiu-Jitsu

Artigo: Neurociência da coesão e do desenvolvimento infantil – construindo equipes desde o tatame infantil

Novo artigo publicado no site da TATAME fala sobre a neurociência e o desenvolvimento infantil; leia na íntegra e opine

Novo artigo publicado no site da TATAME fala sobre a neurociência e o desenvolvimento infantil (Foto reprodução)
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Publicado:

Fabio da Silva Ferreira Vieira

PhD em Ciências do Movimento Humano, Pós-Doc em Neurociências. Email: [email protected]

INTRODUÇÃO

A performance individual nos esportes de combate é constantemente moldada pelo ambiente coletivo. Em um recente artigo publicado na Revista Tatame, o Professor João Paulo de Souza abordou a Importância da coesão de equipes para atletas de combate, destacando como a união e o entrosamento impactam diretamente nos resultados. Paralelamente, o Professor Marco Aurélio Cota Junior discutiu as Diferenças fisiológicas entre crianças que treinam Jiu-Jitsu, ressaltando a necessidade de um olhar atento e adaptado para meninos e meninas no tatame.

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Essas publicações reforçam o que a neurociência tem revelado sobre a formação de atletas: crianças que treinam em grupos coesos não apenas se desenvolvem melhor fisicamente, mas também cognitivamente e emocionalmente. Este artigo propõe um aprofundamento nessa perspectiva, explorando como o funcionamento cerebral está diretamente ligado tanto à coesão da equipe quanto ao desenvolvimento neurofisiológico infantil.

Nos esportes de combate, a performance individual é constantemente moldada pelo ambiente coletivo. A coesão da equipe, especialmente em modalidades com forte componente técnico e emocional como o Jiu-Jitsu, Boxe e MMA, influencia diretamente a motivação, o foco e o desempenho dos atletas. Essa influência se torna ainda mais relevante quando falamos do universo infantil.

Neste artigo, exploramos como a neurociência explica a importância da coesão da equipe e como o treinamento infantil pode ser aprimorado com base nas diferenças neurofisiológicas entre meninos e meninas.

A COESÃO DA EQUIPE SOB O OLHAR DA NEUROCIÊNCIA

A coesão da equipe está associada à liberação de substâncias neuroquímicas que promovem sentimentos de pertencimento e motivação. Um dos principais mediadores desse processo é a ocitocina, conhecida como o "hormônio do vínculo". Durante treinos coletivos bem conduzidos, especialmente aqueles que envolvem cooperação e suporte mútuo, há um aumento natural da liberação de ocitocina, que reforça os laços entre os membros da equipe .

Outro fator importante é a dopamina, neurotransmissor relacionado ao prazer e à recompensa. Conquistas individuais dentro de um ambiente coletivo geram reforço positivo, principalmente quando acompanhadas de feedback social, como aplausos, reconhecimento do treinador ou apoio dos colegas. Essa retroalimentação emocional e química fortalece a permanência e o engajamento dos atletas no treino.

Do ponto de vista cerebral, regiões como o córtex pré-frontal (envolvido no planejamento e comportamento social) e a amigdala (relacionada à regulação emocional) são diretamente ativadas durante interações em grupo, promovendo maior empatia, controle emocional e capacidade de trabalhar sob pressão.

AS NEUROCIÊNCIAS NA RECUPERAÇÃO E MANUTENÇÃO

O cérebro de crianças está em pleno desenvolvimento, e meninos e meninas apresentam algumas diferenças estruturais e funcionais que influenciam a forma como aprendem e se desenvolvem no esporte.

Estudos mostram que meninas tendem a apresentar maior conectividade entre os hemisférios cerebrais, o que favorece a comunicação entre emoção e logica. Já os meninos demonstram uma conectividade mais robusta dentro de cada hemisfério, favorecendo habilidades motoras especificas e foco e tarefas isoladas .

Essas diferenças não devem ser vistas como limitações, mas como pontos de atenção para que os treinadores possam adaptar suas abordagens pedagógicas:

  • Meninas podem se beneficiar de atividades que integrem emoção, narrativa e colaboração.
  • Meninos respondem melhor a desafios técnicos específicos, estímulos de competição saudável e reforço visual/motor.

Ao considerar essas características, os profissionais conseguem construir uma metodologia mais inclusiva, respeitosa e eficaz no desenvolvimento global das crianças no tatame.      

INTEGRAÇÃO PRÁTICA: DO CÉREBRO AO TATAME

Os princípios da teoria do treinamento esportivo, consagrados por autores como Matveev , Verkhoshansky e Bompa , também contribuem para estruturar métodos mais eficazes para o público infantil. Por exemplo, a periodização do treinamento descrita por Matveev e a ênfase no desenvolvimento multilateral apontada por Verkhoshansky reforçam a importância de estímulos variados e adaptados às fases sensíveis do desenvolvimento motor e cognitivo das crianças. Essas abordagens dialogam diretamente com os achados da neurociência sobre plasticidade neural e aprendizado motor.

Para que a neurociência da coesão e do desenvolvimento infantil se traduza em práticas efetivas, é necessário que treinadores e responsáveis adotem estratégias simples, porém embasadas:

  1. Estímulo à empatia e cooperação: exercícios em duplas e pequenos grupos fortalecem vínculos e melhoram a comunicação não verbal.
  2. Rotina de feedback positivo: elogios específicos e reconhecimento das atitudes colaborativas aumentam a motivação intrínseca.
  3. Aquecimento mental e emocional: momentos de mindfulness, respiração ou visualização antes dos treinos ajudam no foco e reduzem ansiedade.
  4. Variedade nos estímulos motores: propor desafios motores que envolvam raciocínio, coordenação e estratégia favorece ambos os sexos.
  5. Envolvimento dos pais: reuniões e dinâmicas com pais e responsáveis fortalecem o apoio socioemocional e o comprometimento com o treino.

Essas estratégias práticas se alinham aos princípios de motivação intrínseca descritos por Deci & Ryan , que ressaltam a importância do sentimento de autonomia, competência e pertencimento para o engajamento duradouro. Além disso, Siegel destaca como experiencias relacionais positivas moldam a arquitetura cerebral em desenvolvimento, o que reforça a importância de ambientes afetivos duradouros. Doidge , por sua vez, evidencia a plasticidade neural como base para adaptações positivas quando há estímulo adequado e constante.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

 Compreender o cérebro é fundamental para otimizar a formação de atletas, especialmente na base. A coesão da equipe, longe de ser um aspecto subjetivo, tem fundamentos neurobiológicos que influenciam diretamente o desempenho e o prazer em treinar. Ao mesmo tempo, respeitar as fases do desenvolvimento infantil e as diferenças neurofisiológicas entre menos e meninas é um passo essencial para garantir um aprendizado mais eficaz, inclusivo e duradouro.

Aplicar os conhecimentos da neurociência no cotidiano do tatame transforma a experiencia de treino em algo mais rico, significativo e potente. Cabe a nós, profissionais da área, fazer essa ponte entre ciência e prática, para que o futuro dos esportes de combate seja construído com base sólida desde os primeiros passos.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS: 

  1. Zak, P.J. (2012). The Moral Molecule: The Source of Love and Prosperity. Randon House.
  2. Ingalhalikar, M., Smith, A., Parker, D., Satterthwaite, T.D., Elliott, M.A., Ruparel, K., Hakonarson, H., Gur, R.E., Verma, R. (2014). Sex differences in the structural connectome of the human brain. Proceedings of the National Academy of Sciences, 111(2), 823-828.
  3. Matveev, L.P. (1965). Periodization of Sports Training. Moscow: Progress Publishers.
  4. Verkhoshansky, Y.V. (1988). Programming and Organization of Training. Moscow: Fizkultura i Sport.
  5. Bompa, T.O. (2000). Total Training for Young Champions. Human Kinetics.
  6. Deci, E.L., Ryan, R.M. (2013). Intrinsic motivation and self-determination in human behavior. Springer Science & Business Media.
  7. Siegel, D.J. (2020). The developing mind: How relationships and the brain interact to shape who we are. Guilford Publications.
  8. Doidge, N. (2007). The brain that changes itself: Stories of personal triumph from the frontiers of brain science. Penguin.

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Carlos Alves: PhD em Ciências do Movimento Humano e Treinamento Desportivo, Pesquisador, Fisiologista e Preparador Físico de Atletas UFC; Bellator; IBJJF / Brown Belt BJJ; Black Belt Muay Thai. e-mail[email protected] / Instagram: https://www.instagram.com/carlosalvesTreinador

 

 

 

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