Entrevista com Ricardo Santos: “Aposta esportiva é número, é um jogo de probabilidade e mais nada!”

Ricardo Santos Perassolli é trader esportivo, coach, influenciador digital e CEO da “FullTrader Sports”
Redator
Rafael Dornas
Publicado em:
16/02/22

Ricardo Santos Perassolli é trader esportivo, coach, influenciador digital e CEO da "FullTrader Sports", uma das maiores – se não a maior – empresa de análise de dados de trade em futebol no Brasil. Com mais de 140 mil inscritos no YouTube e 60 mil seguidores no Instagram, ele já atingiu mais de quatro milhões de visualizações de conteúdo e ajudou milhares de pessoas a fazerem dinheiro com o futebol – e, como ele diz, analisando os dados e identificando os tão importantes padrões.

Em entrevista exclusiva para o Odds Scanner, Ricardo relata o momento em que começou a entender os números por trás das apostas, a importância de se ter uma boa gestão e bons métodos, o quanto o seu entendimento sobre comportamento humano foi importante no trade e como ele é aplicado nesse universo. Tudo isso e muito mais você confere nesse bate-papo com um dos maiores traders esportivos do país!

Odds Scanner: O seu nome está totalmente associado a FullTrader, que é o nome da sua empresa, focada em análise de dados de trade em futebol. Conta um pouco pra gente como funciona o seu trabalho. (00:01:20)

Ricardo Santos: Eu já conheço as apostas há mais de dez anos. Eu estudava poker profissionalmente, mas não participava de circuitos de poker mundial. Eu sou um apaixonado pela teoria e matemática dos jogos. Como eu jogava muito poker, eu acabei conhecendo as apostas esportivas há muito tempo atrás e a partir de um amigo de poker português. Ele me falava muito sobre isso até que fui ver como era e acabei conhecendo as apostas.

Passou algum tempo, e quando eu estava há cerca de dois anos trabalhando e entendendo um pouco o mercado, eu comecei a ver algumas coisas que não faziam muito sentido pra mim em relação ao conteúdo relacionado à trade. Eu via muito gente falando de intuição, e eu, vindo do poker, sabia que as coisas não eram bem assim. Esse processo é todo matemático, e me perguntei: "Por que ninguém fala da matemática por trás do processo?" Não existia conteúdo nenhum falando do estudo da probabilidade, da matemática por trás do processo, de banco de dados, modelo preditivo; esses nomes eram heresia no meio. Então, eu criei um canal no YouTube. O nome "FullTrader" foi o que me veio na hora, eu não sei a razão de ter escolhido ele. Eu achei legal, pois "FullTrader" tinha a ver com alguém que iria trabalhar de uma maneira mais complexa, completa, e criei o canal no YouTube.

Depois, a FullTrader acabou se tornando uma das maiores empresas do mundo de tecnologia que fornece tecnologia para apostadores. Fornece banco de dados, scanner, simuladores… e a gente investe mais ou menos R$1,5 milhão por ano apenas para manter essa tecnologia. O caminho para chegar até aí foi muito grande. Mas foi assim que a FullTrader nasceu, de uma necessidade questionadora do Ricardo, de tudo que via e não concordava. E quando a gente não concorda com algo não adianta a gente ficar só reclamando, né? A gente tem que ir lá e dizer o que pensa. Eu abri o canal no YouTube para isso. Essa é a história.

Odds Scanner: E faz quantos anos que você criou o canal no YouTube? (00:04:43)

Ricardo Santos: Eu acho que eu criei esse canal em 2015. A gente está indo para sete anos, mais ou menos.

Odds Scanner: Você já trabalhava com análise de dados quando atuava na área da saúde. Como você trouxe isso para as apostas? Explica pra gente a relação da análise de dados com encontrar padrões no futebol, que é algo que você diz ser essencial para se trabalhar nesse meio. (00:04:58)

Ricardo Santos: Eu trabalhei durante dez anos na Prefeitura de Guarulhos. Eu tenho, entre outras coisas que fiz na vida, a experiência de ter trabalhado como enfermeiro da família em uma Unidade Básica de Saúde (UBS) e comecei a questionar um monte de coisas mais uma vez. O "Ricardo questionador" entrou em campo sobre a quantidade de papéis que nós tínhamos, sobre toda a burocracia. E o enfermeiro da família é muito administrador disso tudo e, às vezes, acaba atuando pouco, por trabalhar em cima de tantos relatórios. E aquilo me deixava emputecido.

Então, eu comecei a criar soluções pra resolver a minha vida. Eu comecei a criar planilhas e uma série de coisas, aprendi a programar para criar um software para mim, para eu trabalhar na Prefeitura. Algumas pessoas viram o que eu fiz e quiseram a mesma coisa. Então, após tudo isso, eu acabei indo trabalhar na secretaria da Escola SUS. E ali o meu papel era desenvolver sistemas e ideias para auxiliar a área da saúde. Eu acabei estudando data science para criar sistemas e aplicativos para aplicar na saúde pública. Por exemplo, um aplicativo que conseguia monitorar paciente crônicos, como os diabéticos, para saber os seus hábitos de vida e, de acordo esses hábitos, calcular o risco de ter internação, que é o maior custo para uma rede de saúde. E, para fazer isso tudo, é saber fazer análise de dados. Então, eu fiz algumas formações que a Prefeitura acabou pagando para mim e estudei data science para aplicar na área da saúde.

Mas tem alguns processos burocráticos demais na área pública e, ao invés de desenvolver esses processos lá, eu acabei aplicando tudo isso aqui nas apostas esportivas. Inclusive um dos testes que eu fiz dentro do treinamento era com dados relacionados ao futebol. Eu tinha certeza que existia padrão no futebol, eu só não podia provar. Eu tinha essa certeza quando eu olhava as odds. Se existem odds e as casas de apostas continuam fazendo dinheiro, tem um padrão aí. Eu só não sei qual é, e nem como encontrá-lo – ainda. Mas eu sei que tem. Daí que começou a história da análise de dados e do estudo aprofundado nesse processo.

Odds Scanner: Você começou com menos de 100 dólares, e perdeu mais de 100 mil reais nos primeiros quatro anos. Você conta que fazia under alto, over de 0.5, e até achava que iria lucrar, mas quando via, quebrava… e disse que só começou a lucrar depois que entendeu que a casa sempre vence! Explica essa dinâmica pra gente. (00:08:30)

Ricardo Santos: Eu comecei com 52 dólares. Eu me lembro que era uma grana que eu tinha feito naquela semana no poker. Eu peguei esse dinheiro e depositei na minha conta, foi o meu primeiro depósito. E esses 52 dólares chegaram perto de 850 dólares em duas semanas, mais ou menos. E, mesmo estando preparado em saber que as coisas não são assim, de saber que não existe esse crescimento exponencial, eu confesso que perdi algumas noites de sono fazendo contas de juros compostos. "Meu Deus, eu fui de 52 para 850 em duas semanas, como vai estar minha vida daqui um ano?". Inevitavelmente, eu comecei a pensar em comprar uma casa e a dar umas "viajadas". Eu me perdi um pouco. E, quando eu me perdi um pouco nesse pensamento, eu tirei o meu foco do presente, do hoje, e comecei a gerar uma palavra, que é a base da virada de chave. E a palavra se chama "expectativa".

Eu comecei a criar uma expectativa de uma vida incrível, de trabalhar apenas acompanhando jogos de futebol. Era uma vida que eu já queria ter tido com o poker e não havia conseguido. Eu tinha outro trabalho, mas pensei: "Agora eu vou fazer só isso da vida". E eu cheguei nesses valores fazendo under alto, que é um under 4.5, 5.5, que só me fariam perder se eu sofresse, por exemplo, cinco gols num jogo. Então, na minha cabeça, ainda de apostador em resultado, eu comecei a fazer sempre isso, que me fez chegar nesses 850 dólares.

E aí eu pensei: "Vou continuar fazendo isso". Teve um jogo do Palmeiras e eu entrei em uma operação, saí para pegar uma pizza e tomei um gol. Pensei: "Nem vou ver mais esse jogo", desliguei o computador e fui tomar um banho. Quando eu saí do banho, o Palmeiras tinha tomado uma virada e eu perdi ali cerca de 400 dólares. Em um outro jogo seguinte, que não me lembro muito bem qual, do México, eu entrei em um under de novo, para tentar recuperar aquilo que eu tinha perdido, e saíram 3 gols só no primeiro tempo. Voltei para mais ou menos 50-60 dólares. Essa foi a minha primeira "quebra". Eu não cheguei a zerar, mas acabei perdendo bastante.

Mas depois eu continuei, fui para o over e pensei: "Sai gol em quase todo jogo", e comecei a fazer over 0.5, odd 1.07, 1.09, e comecei a ganhar de novo. Aí, de novo, a expectativa: "Agora vai dar certo, encontrei uma metodologia". Até que eu comecei a perder de novo. E eu não comecei a só perder uma ou outra, eu perdia e pegava tudo que eu tinha e colocava na próxima operação. A mente do ser humano, pra se defender da dor, procura sempre encontrar uma razão para abandonar aquela dor emocional da perda. E como você vai abandonar isso? Ganhando mais dinheiro! Então eu ia e perdia novamente.

O fato é que fazer todas essas loucuras e bobagens nos meus primeiros quatro anos me fez perder cerca de, pelo menos, uns 100 mil reais e jogá-los no lixo. O pessoal diz que eu perdi esse dinheiro como investimento, que me fez aprender. Mas eu digo que não! Eu não estava colocando dinheiro focado no aprendizado, eu estava apostando mesmo. A única coisa que eu aprendi, para falar a verdade, é um fato: se não usar a gestão correta, você vai perder tudo o que tem. Mas aprender tecnicamente sobre apostas, isso tudo não me ensinou nada, pois eu não estava focado nisso, eu estava focado em fazer dinheiro. Eu perdi uns 100 mil no mercado por essas bobagens. E eu não estou dizendo que under e over não dão grana, só que eu não sabia fazer nada disso. Eu apostava apenas para acertar o resultado, o meu foco era tentar fazer isso.

Nessa época, eu não tinha estudado nada de data science ainda. Não tinha YouTube nem nada. Depois que eu comecei a estudar os dados, eu comecei a entender. E sobre a ideia de que a "casa sempre vence", eu comecei a observar as odds, e entender o que eram as odds de verdade. Eu sabia que elas representavam probabilidades, mas me perguntava a razão das odds mudarem tanto de um jogo para outro. E procurei saber a razão das odds estarem ali. Eu tinha uma pergunta, e essa pergunta virou a minha chave, na parte técnica: "Será que as casas são eficientes?". Se eu analisar um grande número de jogos, será que as casas sabem realmente determinar a probabilidade de um jogo, de um resultado? Ou não?

Na época, eu não tinha banco de dados e comecei a fazer tudo na mão, e hoje eu tenho tudo isso salvo em Excel, mais de 20 mil linhas anotadas no Excel para ver os padrões de até 3 minutos do jogo. Eu anotava o minuto, a odd que estava naquele minuto em determinado mercado, o placar do jogo e também o padrão para under e match odds. Eu estava buscando alguma coisa que eu não sabia o que era ainda. Depois de um volume grande, eu comecei a fazer a busca que eu queria: Eu pegava um jogo que tinha uma odd X e buscava quantos jogos com essa mesma odd terminaram com resultado X. A partir disso, começou o meu "Momento Eureka", quando você realmente descobre as coisas – quando eu descobri que, sim, as casas são eficientes.

Você realmente vai cair pra trás quando ver que, quando uma casa coloca uma odd de 2.00 e analisa vários jogos com essa odd, você vai ver que a grande maioria realmente vai terminar com essa probabilidade próxima dos 50%. Quando eu vi isso, eu achei que eu tinha feito uma coisa errada, mas eu reparei que sim, existem padrões. Eu ainda não sabia quais eram, mas as casas sabiam. Devido aos padrões que as casas de apostas já conhecem, elas são capazes de determinar uma probabilidade. E por serem capazes de determinar a probabilidade, elas conseguem fazer dinheiro.

Eu não entendia a questão do "juice", que a casa, sabendo que a probabilidade deveria ser de 2.00, coloca uma odd de 1.83, colocando cerca de 5% de juice. E é por isso que elas sempre vencem. Não é que ela vai ganhar todos os jogos, mas ela sempre vai ganhar mais dinheiro do que perder. Isso porque ela conhece a probabilidade, "rouba" um pouquinho, coloca a margem dela e, independente do que aconteça, ela sempre vai ganhar. E a minha saga foi buscar esses padrões e entender o que as casas entendem também, para eu começar a fazer dinheiro assim como as casas.

Odds Scanner: Você também estudou neurociência, e você fala muito dos estilos comportamentais. Vamos trazer para o trade, como o estilo de cada um pode afetar e levar para o sucesso ou insucesso no trade esportivo? (00:20:03)

Ricardo Santos: Isso é incrível. Se as pessoas entenderem isso… eu tenho certeza que isso pode mudar a forma como as pessoas enxergam, não só o trade, mas a vida. Teve um momento que eu comecei a ficar muito incomodado, porque mesmo já sabendo de dados e tendo metodologia que funcionava comprovadamente, eu, ainda assim, em muitos momentos, fazia bobagens e pensava: "Eu sei o que preciso fazer e não faço". E aquilo começou a me irritar demais. Eu tenho um amigo, o Régis, que era contador de uma grande instituição, largou tudo e se formou em coaching. Naquela época, isso era tudo muito novo. E eu comecei a ver a vida dele subir. E pensei: "O que é esse negócio de coaching?". E pedi pra ele para fazer um processo de coaching com ele. Ele me passou os valores que, na época, eu não conseguia pagar, e aquilo não saiu da minha cabeça.

Eu resolvi não fazer sessão de coach, eu resolvi me formar naquilo. Então, eu me formei pela Sociedade Brasileira de Coaching, e aí a minha cabeça "explodiu" completamente. Tudo aquilo que eu achava que sabia de comportamento humano e das minhas próprias reações mudou completamente. Um mundo novo se abriu. A partir daí, eu passei a ler livros. Eu tinha lido dois livros na vida e a partir dali eu li cerca de 160 livros em um ano. Foi algo incrível. Eu comecei a estudar e me aprofundar na neurociência, e fiz estudos também fora do Brasil.

E o que isso tudo tem a ver com o trade? Quando você fala de estilos comportamentais, você encontra algumas ferramentas para analisar, e uma delas é o "DISC", que é o comportamento da dominância, da influência, estável e conforme. São quatro tipos de comportamento que quem criou foi o autor da Mulher-Maravilha. Ele criou esse personagem com o máximo dos quatro comportamentos. E quando você entende qual o seu tipo de ação ou reação frente à uma demanda, você passa ou a evitar aquela demanda, ou a aprender a lidar com ela.

Por exemplo, um dominante, que é o meu caso, junto à influência, tem uma personalidade muito competitiva. Eu, no caso, não gosto de perder nem no par ou ímpar. O dominante é um líder focado em resultado. E ele não olha tanto para as pessoas, mas no resultado. Eu brinco que o exagero do dominante é chegar em uma reunião e falar pra galera trabalhar final de semana para chegar no resultado e que, caso alguém fale que não possa devido ao aniversário da filha, por exemplo, o dominante fala: "Desde quando a sua filha é mais importante que o resultado?" O dominante é assim. Para ele, o resultado é mais importante que a filha, é uma loucura, mas essa é a cabeça do dominante, você tem que aceitar isso.

Não tem certo ou errado, é a forma como as pessoas pensam. E a influência tem mais a ver com a expressão, de gostar de falar e de se expressar. E eu tenho os dois. O estável é aquela pessoa que não gosta de briga, quer ficar tranquila, não entra em polêmicas e não vai se posicionar. E você tem o conforme, que é o caso da minha esposa e do meu cientista de dados da FullTrader, eles são pessoas que não abrem a boca se não tiverem certeza de que estão certas. Elas vão pesquisar muito sobre o assunto antes de emitir a opinião, pois odeiam o julgamento, não suportam estar erradas. Discutir com um conforme é difícil, pois eles já têm todos os argumentos prontos ali.

Nisso tudo, você consegue analisar o perfil de um trader. Um trader conforme, por exemplo, tem a tendência de ser um punter melhor, pois ele vai analisar tudo com calma e tranquilidade e, depois disso, fazer as operações dele. Se você colocar um conforme para fazer o trade como eu faço, no live, vai ser mais complicado pra ele. Ele vai ter que tomar decisões rápidas, e um conforme não gosta de decisões rápidas. Ele precisa de muita coisa e vai hesitar muito. O dominante não, ele é muito mais ativo e – muitas vezes – impulsivo, que gera outro problema. Ele, muitas vezes, sem fazer muita análise, faz a operação.

Cada perfil tem uma forma de agir no mercado e de reagir. Quando você compreende esses perfis, fica muito mais claro onde você deve colocar o seu nariz e onde você não deve, pois terão situações com probabilidade maior de você perder. As pessoas me pedem para indicar um livro para se tornarem um apostador melhor, e eu falo que tem que ser algum livro que não tenha a palavra "aposta" escrita na frente. Eu falo para lerem livros de estatística, para a parte técnica, e livros de comportamento humano.

Porque o trader é um cidadão, ele é um pai, filho, marido, é alguém politizado ou não. Se uma pessoa é ansiosa em tudo o que faz na vida, ela vai ser ansiosa no mercado também. Alguém que não tem compromisso na vida, não vai ter no trade também. Se ela não cumpre nada do que fala, não adianta falar que no mercado ela não vai fazer uma gestão errada. Isso é uma ilusão, ela vai repetir o comportamento. Só que as pessoas não sabem disso, não entendem, então eu fui estudar para entender. E eu digo pra você que eu duvido muito que eu chegaria onde cheguei hoje no trade se não tivesse essa instrução e conhecimento sobre comportamento humano. Isso foi fundamental para mim.

Odds Scanner: Você enfatiza que aposta e trade esportivo é zero intuição e 100% dados, e já disse que as casas de apostas não assistem jogos – elas assistem números. Para você, a leitura numérica é mais certeira do que a leitura visual de jogo? (00:29:36)

Ricardo Santos: Eu vou dizer isso de uma forma mais clara do que eu acho que as pessoas que estão nos acompanhando esperam. Eu tenho uma política minha e da minha empresa muito clara: a gente não fala de pessoas, a gente fala de ideias. Se for pra falar de pessoas é pra falar bem, se eu tiver que falar mal eu nunca vou citar o nome de ninguém. Eu gosto de discutir ideias. Eu vou citar o nome de uma pessoa aqui que é pra falar bem. Por quê? Porque as pessoas criam ilusões e gostam de "treta".

Eu vi que vocês fizeram uma entrevista recente com o Nettuno. Eu até mandei uma mensagem pra ele e falei: "Cara, eu quero ter a saúde e a disposição que você tem como trader e como pai, e o carinho que você tem pelos seus filhos". Eu acho aquilo algo incrível. Só que as pessoas criam umas rixas que não existem. Porque, às vezes, a gente discorda de alguns pontos e ideias, eu discordo de muita gente. Está tudo bem discordar de uma coisa ou de outra. Eu adoro filosofia, e quando você vai estudar a ideia da discussão você entende que a discussão só vale a pena se for para chegar em um resultado. Se não for para chegar em um resultado, então ninguém deveria nem discutir.

E esse debate ficou o seguinte: o Nettuno, dono da leitura visual, e o Ricardo, dono da leitura numérica. E ninguém é dono de nada! São ideias que o Nettuno foi precursor de falar sobre, e eu também. E tem pessoas espertas que pegam o que aprenderam com o Nettuno e o que aprenderam com o Ricardo e juntam tudo e ficam melhor do que nós dois. Isso porque a ideia disso tudo é criar métodos que funcionem e coloquem dinheiro no nosso bolso.

Agora, vamos falar disso tudo tecnicamente. Na verdade, não existe o "versus", que seria a leitura visual versus a leitura numérica. É tudo absolutamente a mesma coisa. Para que exista a leitura numérica, tem a leitura dos scouts, profissionais que ficam nos estádios colhendo e lançando os dados do jogo, e os scouts têm uma leitura visual padronizada. Eles são treinados para enviar informações específicas para um aplicativo. Eles podem lançar no app que um lance, para eles, foi uma grande chance de gol. Só que eu sou uma pessoa, ele é outra e você é outra, a gente pode ver isso diferente. Não existe uma probabilidade de eles lançarem isso de maneiras muito diferentes? Se eles fizessem isso de forma muito aleatória, sem treinamento, cada um lançaria de um jeito. Cada um poderia analisar e interpretar o lance de uma forma.

O fato é: isso não pode ser subjetivo. Tem que ter um treinamento padronizado do que é, nesse caso, uma grande chance. Então, a empresa faz esse treinamento com o scout e mostra o que é uma grande chance e o que não é. Após esse treino, os scouts vão fazer uma leitura visual e, quando acontecem essas coisas do jogo, de forma padronizada, eles lançam um número. Esse número nada mais é do que uma representação do que está acontecendo visualmente em campo. O número e o visual acaba sendo a mesma coisa. A diferença que temos aqui é saber quem está fazendo a leitura visual e quem está fazendo a leitura do número.

As casas de apostas não tem como ter alguém visualmente passando as informações de vários jogos ao mesmo tempo, de manualmente ir mudando as odds, isso não tem condição. Então, eles recebem esses dados dos scouts em tempo real e isso passa por um filtro, que a gente chama de modelo preditivo, que analisa esses dados em tempo real, compara com um modelo – que envolve placar, tempo de jogo, odd inicial, etc –, e vai dizer qual a probabilidade do jogo terminar de uma maneira, de acordo com o comportamento dos dados colhidos, e a odd muda automaticamente. Dois minutos depois, tudo muda de novo.

Isso são modelos preditivos que as casas fazem e que a gente também faz aqui na FullTrader, só que a gente faz para o apostador fazer dinheiro, não para as casas. Agora, o cara que vai fazer a leitura visual, como é que ele vai fazer isso? Aqui que chega o meu ponto. Na minha opinião, leitura visual não pode ser ensinada, tem pessoas que tem uma leitura visual incrível, no caso do Nettuno, mas aquilo é dele. Ele acompanha um jogo, faz a leitura, entende, e faz dinheiro com aquilo. Só que ele mesmo disse que não consegue garantir para uma pessoa que ela vai ter os mesmos resultados que ele, mesmo ele ensinando tudo, pois não tem como ele fazer isso. A leitura e a percepção são dele. Com certeza ele já anotou muita coisa e sabe que um determinado comportamento é favorável.

Se você perguntar para um comentarista profissional de futebol qual clube ele acha que vai fazer um gol primeiro em uma determinada partida, ele vai saber te responder. Mas, na hora de apostar, existe uma coisa que se chama odd. Existe uma separação na hora de um comentarista para um apostador profissional quando a gente coloca a odd no assunto. Porque a odd representa uma probabilidade. Ele pode até me dizer que um time tem mais chances, mas quanto? Se você não tem um número para me dar, a gente tem um problema.

Aposta esportiva é um jogo de números, de probabilidade. Se você não tem um número para me dar, entra a questão da intuição. Porque se uma odd está 1.30, o mercado já está falando que a chance é maior. Tem uma frase que eu aprendi no poker que eu falo para os meus alunos o tempo inteiro: "Se você não for o favorito, não entre na mão". No poker, você decide se vai jogar uma mão ou não, e você só decide jogar uma mão se é o favorito para ganhar. Como você sabe que você é o favorito para ganhar em relação aos outros? Quando você conhece as probabilidades. Sem conhecê-las, você nunca saberá se é o favorito.

E ter intuição é um problema, não dá para ter intuição. Você tem que saber. Se você quer trabalhar com leitura visual, beleza, eu também já trabalhei, mas pega uma planilha do Excel e coloca lá os seus dados. Por exemplo, tem um time massacrando o outro, mas o que é um time massacrando? É o meu padrão de anotação, assim como o scout que eu falei também tem o dele.  Eu fiz o meu padrão. Sendo que o meu padrão A tem um comportamento e o B outro, e ensinar isso para outra pessoa fica complicado.

É possível criar o seu padrão, só que as pessoas não fazem. Elas simplesmente sentam e assistem o jogo apenas com o seu conhecimento de futebol e querem operar. Isso sem saber o que são as probabilidades, sem saber se uma equipe realmente tem vantagem e se ela é favorita. Você pode trabalhar com qualquer tipo de leitura. Existe uma que, por exemplo, é de só olhar a odd, que é um indicador incrível. Isso, pra mim, é escravizar a casa de aposta, usar toda a sua estrutura de scout e colocar ela para trabalhar pra mim.

Só de olhar a alteração da odd de uma determinada partida é possível saber tudo o que está acontecendo no jogo. E esse é um outro tipo de leitura. Mas também dá para juntar todas, desde que você coloque isso em um contexto. O que eu não acredito é que possa existir uma intuição de achar que um time vai marcar o próximo gol sem conhecer o número por trás disso. Aposta esportiva é número, é um jogo de probabilidade e mais nada!

Odds Scanner: Conta pra gente as suas preferências de mercado e aonde você opera. (00:43:25)

Ricardo Santos: Eu sempre operei em exchange. Eu opero hoje em três lugares. Um deles é a Betfair, na parte de exchange, que é a melhor do mundo. A parte de sportsbook eu não recomendo. Lá é uma troca, uns contra os outros, eu tenho a oportunidade de me tonar uma casa, e o lucro está aí. O lucro que eu tenho sai dos amadores e vem para as minhas mãos. Eu brinco que, quando eu vou pro exchange, eu levo a minha pá para recolher o dinheiro. O profissional faz isso. Eu proponho uma cotação, meus adversários não sabem nada disso, pois eles trabalham com intuição, e eu pego a pá e jogo na minha sacolinha. Eu brinco com essa metáfora porque numa exchange você consegue fazer isso.

Trabalho também na Trader Bet, que é um "espelho" da Betfair, e que é administrada aqui no Brasil pelo Danilo Pereira e alguns outros sócios. E lá é exatamente igual a Betfair, com as mesmas odds e mesmos mercados. Ela é 95% idêntica e tem poucas coisas diferentes. E comecei a trabalhar agora também na Punter Place, com automação. A minha parte de automação eu trabalho lá, porque tenho uma liquidez maior. A Punter Place não é uma casa, é uma plataforma que você encontra várias casas lá dentro. As casas de apostas tradicionais costumam limitar as pessoas, e na Punter Place tem um acordo com as casas de não ter limitação. Então, eu posso ganhar o tanto que eu quiser de dinheiro lá dentro que nunca serei limitado. Eu só abro a conta e posso trabalhar a vida inteira lá, que é o mesmo caso da Betfair Exchange. Eles não te limitam em relação aos seus ganhos. São esses três lugares que eu trabalho.

Há uns cinco anos, pelo menos, 80% do que eu faço é o mercado de match odds, trabalhando em back no primeiro tempo. É o meu ganha-pão, o que mais me trouxe dinheiro na vida. Eu já "rodei" um pouco mais de 90 milhões de reais no mercado. Seguramente onde eu mais fiz dinheiro é operando esse método, de odd média entre 1.70 a 2.30, geralmente no time da casa, onde eu tenho, no primeiro tempo, uma equipe que apresenta assimetria. Quem estuda um pouco de investimento sabe que assimetria garante o lucro. Qualquer um que operar com assimetria no trade esportivo ou no mercado financeiro, vai fazer dinheiro. Porque assimetria é comprar barato e vender caro. Quando eu encontro assimetria, de acordo com os indicadores que eu trabalho, eu vou e faço a minha operação. Eu opero assimetria nessa faixa de odds, perto do início do jogo e não fico exposto no segundo tempo com essa metodologia, que é quando eu vou operar outras coisas.

Esse é o meu principal método, mas eu também opero lay favorito em jogos empatados no segundo tempo, quando meus indicadores me passam que o favorito não está bem. De vez em quando, eu faço alguns unders ainda, e alguma coisa de correct score. Tem uma coisa que eu faço para mostrar pra galera crescer, que é um método que eu chamo de "contra eventos raros". O resultado dele é tão absurdo que até assusta as pessoas. Em 17 dias operados, eu fiz 440% da banca de lucro. É muito louco. Só que existe um risco também para isso. Então, quem estiver disposto a assumir o risco pode ter um prêmio legal. Enfim, são esses mercados aí que eu trabalho.

Odds Scanner: Vamos aproveitar e falar do Scanner FullTrader. Como ele atua junto aos métodos que você cria, e como ele ajuda no processo de estudar os riscos de uma operação e o momento certo para sair no lucro?  (00:49:08)

Ricardo Santos: O Scanner surgiu por uma necessidade minha, para eu lucrar no mercado. Pois, por mais que eu tenha a empresa FullTrader, eu também estou no mercado operando quase todos os dias. Eu dedico cerca de seis horas por dia para operar, então eu opero bastante no mercado. Eu trabalhava com leitura visual, de assistir os jogos e fazer as operações. Eu adoro tecnologia, e trabalho em frente a um monitor ultra wide gamer, e imagina esse monitor cheio de telinhas passando jogos. Eu já cheguei a ter 16 jogos abertos na minha frente. Eu sempre tive acesso às streams, mas qual ser humano dá conta de acompanhar tudo isso? A gente já tem dificuldade de fazer cálculos rápidos em um jogo, dois jogos fica mais complicado, mas ainda dá. Agora, alguém que falar que consegue acompanhar cinco jogos ao mesmo tempo com o mesmo nível de atenção… esse cara tem algum botãozinho que está faltando na cabeça para dar essa facilidade.

Mas eu comecei a ficar bravo com uma coisa: Eu opero dia de domingo, pois sábado eu já não opero, que é um dia que eu dou uma parada, mas domingo eu opero muito, o dia inteiro. Pra você ter uma ideia, a minha esposa pede o almoço pelo iFood, coloca no meu colo, e eu vou operando e comendo… é tenso! Só que aí eu reparei que eu comecei a não perceber outros jogos e isso começou a me incomodar. Eu estava deixando de fazer muito dinheiro no mercado por não conseguir acompanhar as oportunidades visualmente. Eu já gerava resultados e era lucrativo, mas dava para fazer muito mais grana. Então, eu comecei a procurar sites que mostrassem como o jogo estava, para que, através dessa leitura, eu tomasse uma decisão.

Mas aí eu tive um problemão. Quando eu ia para um site, como – por exemplo – o SofaScore, ele me mostrava as estatísticas. Eu queria saber se era possível criar um modelo preditivo ao ponto de olhar para as estatísticas que o site me dava e já saber qual era a probabilidade de eu vencer com aquele comportamento de acordo com a odd, para saber se eu era favorito ou não. Mas como eu ia saber disso se eu não tinha o banco de dados do site? Eu só tinha a informação na tela. Mas eu não consigo fazer busca daquela informação para criar um modelo preditivo.

Para se criar um modelo preditivo, você precisa de um número de jogos muito grande – imagina que você tem 10 mil jogos. Você pega 4 ou 5 mil desses e começa a aplicar o modelo. Se eu fizer tal coisa dentro desses jogos e ficar exposto 20 minutos com um determinado comportamento, qual seria a minha probabilidade de vencer? Eu aplico nessa base de 5 mil jogos, e tenho um número. Eu pego os outros 5 mil, quebro em cinco blocos de mil e aplico o mesmo modelo em cada um. Se o resultado que eu tiver em todos for muito próximo, a gente vai medir a variância disso, e analisa isso para refazer, trabalhar no modelo. Mas eu não tinha esses dados, de site nenhum, e pensei: "Vou criar minha própria estrutura."

O que eu fiz foi criar o meu próprio banco de dados profissional, e criei também o Scanner. Ninguém usava, era meu. Só eu tinha acesso e o meu programador, eu usava só para mim. Até que isso começou a ficar caro. A galera não tem noção de quanto os dados custam. É tão caro, os dados desse nível profissional, que a gente começou com um custo próximo de 300 mil reais por ano e hoje o nosso custo é de, mais ou menos, um (1) milhão e meio. De custo, só para manter dados, sistema no ar, programadores, cientistas de dados… é muito caro isso tudo.

Imagina só: se eu tenho um (1) milhão e meio de custo, para valer a pena, eu teria que lucrar no mercado muito mais do que isso, só que eu não lucro mais de um (1) milhão e meio por ano com apostas. Acabou que não fez sentido manter isso sozinho, e por isso acabei liberando para a galera acessar. A gente faz meio que um rateio, a galera da comunidade acessa, cada um paga uma "merrequinha" e a gente consegue acessar todas essas ferramentas e todos acessam tranquilamente.

E o que o Scanner faz? O Scanner recebe os mesmos dados que as casas recebem e acessam os mesmos scouts. Os mesmos scouts que mandam os dados para as casas mandam para mim também, ao mesmo tempo. Eu recebo esses dados, trato eles através dos modelos preditivos que a gente cria. E quando ele se encaixa em uma metodologia, aparece na tela um indicador que diz assimetria, ou "volume ofensivo importante", etc. Esses indicadores mostram para mim de todos os jogos que estão rolando ao mesmo tempo. Então, eu não perco mais oportunidades. Se tiver, por exemplo, 200 jogos ao mesmo tempo, mesmo sem oportunidades em todos eles, se aparecer oito jogos rolando uma assimetria em match odds, na sua faixa de odd, não precisa assistir nenhum jogo. Pois esses modelos já são validados, e eu já sei que eu tenho vantagem. Eu já sei que a probabilidade é favorável, é indiscutível. Não é mais: "Será que eu vou ganhar dinheiro com isso a longo prazo?" Não! É: "Eu vou fazer dinheiro com isso a longo prazo!". É tudo validado.

Então, quando ele mostra na minha tela, eu clico no botão e faço a minha operação. Sem precisar acompanhar. Eu não filtro país, não filtro equipe, nem nada. Meu único filtro é a assimetria. Pode ser um jogo do time da minha rua contra o time da sua rua. Se o time da minha rua estiver apresentando assimetria em relação à odd inicial dele, então eu vou trabalhar. Eu faço apenas um pequeno filtro no valor que vou colocar de stake. Por exemplo, tem um dado importante que é prestar atenção nos gols sofridos por uma equipe; os gols sofridos podem ser muito mais importantes do que os gols marcados. Tem um outro amigo meu que fala que o gol sai porque alguém erra. Times que erram muito sofrem mais gols. Isso pode aumentar um pouco a sua variância se você tiver um time ruim jogando bem. Isso tem valor, eu consigo operar em cima disso, mas eu coloco menos dinheiro.

Sempre que a minha variância for maior, eu ponho menos dinheiro. Quando a variância é muito pequena, eu posso usar mais dinheiro. É assim que se define a gestão. A gestão não é sua intuição, é o seu modelo que te diz. É a matemática que vai te dizer se a variância é maior ou menor e o quanto pode ser sua gestão ali. Então, o Scanner é isso: a gente cria um método no banco de dados, cria o modelo, programa o Scanner, ele varre os jogos e, quando estiver rolando uma oportunidade, ele me mostra na tela e eu faço a operação. Ele também me avisa quando o indicador sumir, aí eu saio da operação.

Uma outra coisa que eu falo quando as pessoas me falam que eu sou bom é o seguinte: Eu não sou bom. Quem é bom é o método, não sou eu. Não sou eu que opero, eu não tomo a decisão. Quem toma a decisão é o método e o indicador. Se não aparecer o indicador, eu não vou fazer nada. Eu não sou bom, eu sou um escravo do meu método. O meu único trabalho é, quando ele me indicar, eu faço a operação. Isso é bom porque as pessoas conseguem replicar, não está na minha cabeça, está aqui no modelo. Se eu mostrar isso para você, você consegue replicar também. É isso o que a gente faz aqui.

Tem uma outra coisa, que é sobre o que as pessoas precisam aceitar. A palavra é realmente essa: "Aceitar". Não tem discussão sobre isso. Tem algumas coisas de aceitação que nós temos que ter, mas uma coisa que se enquadra na variância é: a gente tem uma coisa chamada win rate, que é a taxa de acerto que a gente vai ter em um método. Imagina que você tem uma metodologia com uma taxa de 70%. Se você tiver uma odd de valor ali, você vai sempre ganhar mais dinheiro do que perder… beleza.

Agora, quando é que virão esses 70 greens e esses 30 reds? Qual a sequência dos greens e dos reds? Essa distribuição, que é a palavra que a galera tem que aceitar. Ela é completamente estocástica e aleatória. Nem eu, nem você tem controle de quando virá o red e quando virá o green. No nível micro, na análise de um jogo só, o desfecho do jogo, ou seja, o resultado do jogo, é aleatório. Isso é uma loucura, parece um paradoxo, porque a gente está falando de um padrão. E existe um padrão no futebol. "Mas você está me dizendo que o desfecho do jogo e o que vai acontecer no final dele é uma distribuição aleatória"? É! É uma distribuição aleatória em nível micro. O seu padrão esperado nunca é em um jogo.

Quem analisa só um (1) jogo, que nem o jogador de poker que joga uma mão só e aposta tudo que ele tem naquilo, é um jogador de azar. Apostador esportivo que quer ficar acertando o resultado de um só jogo é um jogador de azar. Quando você vai para o nível macro, aí os padrões acontecem. Mas aqui, é micro. Isso é tão libertador para quem entender, porque faz com que o cara comece a criar metodologia e sabe que tem valor. Quando eu tomava vários reds seguidos, sabe o que eu fazia? Mudava o método. Porque eu não entendia que a distribuição do win rate é aleatória.

Eu não sei quando virão os greens e quando virão os reds, o que eu sei é que, em um nível macro, eles virão dentro daquela proporção que a gente estudou. Mas a ordem que eles virão é aleatória. Isso é libertador para quem entender. O mercado não te deve nada, o mercado é neutro. Ele não está contra você nem a seu favor. Ele tem um conjunto de regras e vai distribuir, em um nível micro, aleatoriamente, o desfecho dos jogos. No macro, você tem que encontrar esses padrões. Essa é a variância do win rate.

Odds Scanner: Você já disse que a palavra "dias" tem que ser abolida em qualquer tipo de investimento em geral, não só nas apostas. A questão é a visão de longo prazo, certo? (01:05:10)

Ricardo Santos: O longo prazo por conta do macro, do volume. É igual uma moeda, que assim todo mundo entende. Eu tenho cara e coroa, 50% de chance de cair de cada lado. Eu já joguei ao vivo brincando com a galera, e caíram oito vezes cara e duas vezes coroa. Aí você vai me dizer que tem 80% de chance de cair sempre cara? Não! A única coisa que eu sei é que eu joguei muito pouco. Eu tenho que continuar jogando essa moeda.

Tem um seguidor louco meu que falou que jogou 2012 vezes a moeda. E ele me disse que o resultado foi 51% para um e 49% para o outro lado. Eu falei: É isso aí. Quando você joga com muito volume, os padrões tendem a aparecer. Quanto volume precisa? Quanto menor for o seu volume de jogos, maior tende a ser a variância. Por isso que um cara que opera um (1) mês e tem 50% de lucro, pode tirar o cavalinho da chuva dele de achar que o outro mês vai ser igual. Pode ser que ele tenha 200% ou -10%. Porque o volume de jogos que você fez em um (1) mês ainda é muito baixo para validar algo. E ainda tem a sazonalidade. Trabalha dois anos, faz o seu volume, que aí sim a gente consegue brincar com os dados. Antes disso é só conjectura.

Odds Scanner: Você é otimista em relação ao cenário atual de apostas no Brasil? O que acha sobre a regulamentação que pode ser aprovada em breve – vai ajudar ou atrapalhar? (01:06:55)

Ricardo Santos: Agora vai ser só a minha opinião mesmo. Eu vou tirar toda a questão de padrões e vou dar a minha opinião, e vou dizer para você uma coisa que eu acredito. Eu gosto de evidências, de coisas que eu vejo. Eu não acompanho muito à fundo, mas eu vejo algumas evidências. Por exemplo: as casas de apostas invadiram o Brasil, estão patrocinando praticamente todos os times de futebol, até na Série B. E você tem, por exemplo, a Betfair, que faz parte de uma holding, uma das maiores do mundo, comprando aqui os naming rights do Campeonato Carioca… a Betfair! Será que esses caras investiriam tanto assim no Brasil à toa?

Eu vejo duas coisas: Ou eles estão investindo muito no Brasil porque acham que vai dar ruim, então querem aproveitar agora para expor suas marcas e, caso o Brasil não permitir, a galera acessa de outra forma; e a segunda é que eles já sabem de lobbies que podem acontecer no nosso cenário político e sabem que vai dar tudo certo e que vão ficar por aqui – em relação às casas, de se instalarem no Brasil ou não. Pelas evidências que eu vejo, acho muito difícil não passar. O presidente Jair Bolsonaro (PL) disse que vai vetar qualquer coisa que chegar na mão dele que ele chama de jogos de azar. E é até engraçado ele falar de jogos de azar, porque quando você olha pra nossa Mega Sena, aquilo é exatamente um jogo de azar. Ele falar que jogo de azar não é bem-vindo no Brasil é falar bobagem. Já tem jogo de azar no Brasil.

Mas enfim, se o nosso presidente não trabalha com aposta esportiva, os caras que trabalham para ele deveriam contratar pessoas inteligentes e sábias sobre o tema para assessorá-lo. Ele é muito mal-assessorado nisso e falou que vai vetar. Só que ele também já disse que se o próprio parlamento, que já aprovou a votação em caráter de urgência… se ele vetar, o parlamento derruba o veto. Então, eu acho que está se encaminhando paras as coisas passarem e vai acontecer.

Como é que fica isso tudo para o apostador? Se eles fizerem de taxar o apostador na fonte, isso vai ser horrível, vai ficar impraticável. Imagina que, se você teve lucro no day trade, tipo R$2 mil, você paga um imposto sobre isso. E, de acordo com essas taxas, você pode ter uma alteração muito grande sobre isso. Nas apostas esportivas vai ser diferente. Você pode começar o dia ganhando. Você pode ganhar cinco apostas e perder duas, e sair o dia perdendo dinheiro por conta do imposto recolhido na fonte. Eles querem recolher imposto até do que você perde, mais ou menos isso. Vai ser uma loucura.

Eu espero que alguém coloque juízo na cabeça do nosso país. Porque, se eles quiserem arrecadar mais dinheiro, é importante que as pessoas tenham condições. Quem conhece sobre análise profissional e de probabilidades são os profissionais envolvidos nas apostas, que são 2-3% de milhões no país. A grande maioria vai apostar e brincar nos jogos do seu time de coração. Se o governo começar a pesar, ele vai ver que a massa vai continuar apostando mesmo se cobrar deles, porque eles gostam mesmo é de apostar. Eles vão arrecadar do mesmo jeito e vão querer cobrar. Então, eu vejo que, para o profissional não vai ser muito legal se eles forem nessa linha. Para o amador, tanto faz e tanto fez, ele vai continuar brincando lá e não vai nem perceber.

Só que isso pode afastar os profissionais de operarem no Brasil. A galera pode começar a procurar métodos clandestinos. Mas, para encerrar esse ponto, o que eu penso de verdade é que isso tudo vai começar a deixar de ser relevante por conta de uma coisa chamada Internet 3.0. A Internet 3.0 é uma ideia que tem como palavra a descentralização. As criptomoedas, por exemplo, fazem parte dessa ideia da Internet 3.0. Quando eu vou comprar e vender bitcoin, atrás da transação existe um computador que faz os cálculos. Os sites hoje são hospedados em uma máquina específica, centralizado em um endereço. A ideia da Internet 3.0 é descentralizar tudo. O cálculo do bitcoin é feito por milhões de computadores ao redor do mundo, e isso é irrastreável.

E eles já criaram uma casa de apostas no modelo Betfair, exchange, descentralizada com cripto. Isso significa que ela é irrastreável – governo nenhum consegue saber de onde veio o seu dinheiro, é cripto. Você pode fazer o que quiser com o seu dinheiro. Se você receber o seu dinheiro em cripto e for sacar em dinheiro é impossível qualquer um saber de onde veio. Então, o governo não vai saber que o dinheiro é de aposta para te taxar. Ele pode taxar a cripto, mas de onde vem, não dá para saber. Então, isso tudo vai ser irrelevante, eu não me preocupo com isso porque a Internet 3.0, Bitcoins, NFTs, tolkenizações, metaverso, etc, vão criar tantas alternativas que os governos vão perder a mão sobre isso.

Se eu fosse um governante eu ia parar e pensar: "Vamos deixar funcionando bem para todo mundo que, pelo menos, a gente fica com uma parte do negócio". Caso contrário, eles vão ficar sem nada. Então é isso: eu gostaria que regularizasse e regulamentasse, que a profissão fosse reconhecida, afinal tudo o que é regulamentado a gente consegue avançar mais. Mas não nos termos que eles estão colocando aí.

Odds Scanner: Ano de Copa do Mundo, não tem como não perguntar sobre isso: Você vai operar em jogos da Copa? E quais sugestões você dá para os seus seguidores? (01:16:47)

Ricardo Santos: Copa do Mundo é o maior barato. Porque você tem jogadores que jogam em times espalhados pelo mundo, alguns em fase ruim e outros em uma fase boa. Esses jogadores vão chegar na Copa do Mundo em um momento diferente do que talvez estavam há seis meses. É muito complicado analisar qualquer probabilidade em pré-live na Copa do Mundo. Mas isso não é ruim, é complicado para todo mundo, inclusive para as casas. O peso que as casas dão para a camisa é muito alto. Se for a Alemanha ou a seleção brasileira, eles dão um alto peso, levando em conta a tradição daquele time, e vão ponderando isso.

Então, a gente tem muitos jogos com odds completamente ridículas. Só que a gente só sabe que elas são ridículas quando a bola rola. Quando a bola rola de verdade, a gente vai ver times com odds 1.40 tomando sufoco contra times de odd 6.00. E a forma como o mercado reage em Copa do Mundo é diferente, porque a Copa atrai olhares de muita gente que não estava ligada no futebol. Só que agora eles estão ligados, e vai vir muita gente que vai operar pela primeira vez na vida em Copa do Mundo.

Isso é uma coisa que a galera não considera em seus modelos preditivos, que é uma variável chamada "apostador". Quem é o apostador que opera em Copa do Mundo? Será que é o mesmo do Brasileirão? Tem o mesmo perfil? Você tem que considerar isso, porque quando você vê um mesmo padrão que você está acostumado em jogo de Copa, a odd – ao contrário dos jogos de campeonatos regulares – não despenca. E por quê? Porque as pessoas que estão apostando tem um perfil diferente. É muita gente torcendo pelo seu país. Se eu sou belga, eu acho que meu time vai ganhar, mesmo se for contra o Brasil.

O comportamento do apostador na Copa do Mundo é louco, ele é diferente de muitas formas. E isso acaba gerando muito ruído para o profissional, que está acostumado com um determinado padrão. O conselho que eu dou para quem vai operar na Copa é não buscar por padrões rotineiros que você vê durante o ano em ligas. Se permita acreditar que existe uma variável diferente chamada "apostadores" e que eles vão fazer coisas que você não vai acreditar. Você vai ver odd se movimentando de um jeito que você não vai entender. Eu não acho difícil a gente ter meio bilhão de reais em um jogo, pois tem muita gente ali apostando.

Mas a gente deve ter muitas oportunidades para trabalhar em algumas zebras, de odds muito altas. E também correções de odds, porque o mercado acaba fazendo correções. Ele precifica no pré-live, ele não tem informação sobre aqueles times e, quando o jogo começa, o mercado vê certas situações e vai mudar a odd, dando a oportunidade de o pessoal trabalhar em cima de correção. Copa do Mundo é um evento à parte. Tem gente que faz muita grana na Copa, muita mesmo, mais de um milhão e meio de lucro. Mas vai ter gente perdendo também, vai ter de tudo.

O meu perfil para a Copa do Mundo é bem mais conservador, eu coloco muito pouco dinheiro, porque eu não consigo analisar padrões na Copa do Mundo. E se eu não conheço os padrões, eu prefiro não brincar com o dinheiro. Se eu não conheço muito os padrões, eu entro bem leve e vou curtir. Eu sou santista, eu opero contra ao Santos sem problema, mas nos jogos da seleção brasileira eu não tenho condição. Quando toca o hino nacional antes dos jogos eu começo a tremer, literalmente. Eu tenho um negócio com a seleção… eu sou apaixonado por jogos de seleção, principalmente em Copa do Mundo. Eu não tenho a mínima condição de operar em jogos da seleção. Em outros jogos eu vou entrar se rolar uma oportunidade de trabalho, mas vai ser com uma stake bem reduzida.

Odds Scanner: Você sempre enfatizou muito a importância do planejamento no trade esportivo. Já que estamos em início de ano, conta pra gente o que deu certo e o que não deu ano passado e qual o seu planejamento para 2022? E ainda, que conselho você dá em relação a isso? (01:23:46)

Ricardo Santos: O ano passado foi um bom ano para mim, mas foi o pior ano dos meus últimos cinco. Eu terminei bem o ano, com uma margem de 122% sobre a minha banca inicial, o que é ótimo, um lucro absurdo, mas foi o meu menor lucro em relação aos outros anos. E foi um ano em que eu, de propósito, foquei menos em operações trading e dei foco em outras situações da minha vida. Eu tive um bom resultado, mas em comparação a outros anos não foi tão bem assim. Mas eu também não tenho expectativa de quanto eu vou fazer, isso é apenas uma comparação com os outros anos. E foi um ano em que eu tive um mercado que puxou meus resultados para baixo, que foi o under. Eu fui bem em match odds, mas trabalhando under foi um ano bem ruim. Eu perdi bastante dinheiro operando em under, e isso acabou reduzindo o meu resultado.

É engraçado que, em 2019 e em 2020, eles puxaram meu resultado para cima. Mas em 2021 não fui bem, enfim. Pode-se dizer que eu operei pouco, mas o pouco que eu operei não foi bom. E o meu planejamento para esse ano é bem ousado, mas é um planejamento que mostra muito da minha evolução pessoal e o meu compromisso com o trade. Eu trabalhei o ano passado com uma banca de 100 mil reais e este ano eu estou trabalhando com uma banca de 250 mil reais, só que eu quero chegar até o final do ano com um (1) milhão.

Eu quero ter um capital de um (1) milhão de reais disponível para eu trabalhar com apostas esportivas em 2023. E eu não quero chegar só com o lucro dos 250 mil para um (1) milhão, se acontecer – lindo –, mas eu quero também fazer aportes. E essa é outra dica que eu quero dar para a galera: Quando você fizer o seu planejamento, faz um planejamento sério. Um planejamento sério envolve compromisso, comprometimento, e envolve você acreditar no que está fazendo. Como que eu poderia falar de apostas esportivas o tempo todo nas redes sociais e ter empresa sobre isso e eu mesmo não investir no meu trabalho?

Antes de qualquer coisa, eu sou trader. Eu preciso investir mais para esse ano conseguir separar um (1) milhão de reais para conseguir trabalhar com trade. Mas isso tudo está muito focado com automação. Eu quero trabalhar muito com automação a partir do meio desse ano. Eu quero chegar em um momento que, não sei se será no próximo ano ainda, mas chegar em um momento que 95% das minhas operações sejam com automação. Eu ainda não consigo fazer isso porque tem coisas que a automação ainda não faz. Mas vai fazer, é só uma questão de acesso à tecnologia. E é inevitável.

Este é o meu planejamento, e a dica que eu dou para a galera é fazer isso de forma séria. A sua família, às vezes, te julga por trabalhar com apostas e você vive brigando falando que isso é coisa séria, que precisa de estudos, etc, só que o cara que está falando isso pra você, que não é sério, às vezes ele está investindo na bolsa e você não está. Você não está se dedicando o tanto que deveria, investindo em uma estrutura e nem colocando dinheiro de verdade o quanto você deveria. Isso não mostra seriedade no que você faz.

Se você pega, por exemplo, a grana que te sobra, ela sobra depois do quê? Se for um dinheiro que só sobrou e não vai te fazer falta e você vai colocar nas apostas, eu não concordo com isso. Eu acho o seguinte: Separa uma grana para investir, sem ser a sobra, guardada para investir e tomar riscos. Quanto mais jovem você for, mais riscos você pode tomar. Já vi um jovem de 22 anos reclamando da vida, falando que tudo deu errado. Eu falo para ele: "Você está de sacanagem comigo?" Mesmo se você tiver perdido muita coisa, você tem força e saúde e tempo pra reconstruir o que você quiser.

Então, se você for jovem, essa é a hora de tomar riscos. Tomar riscos calculados, entendendo, estudando e priorizando. Quanto mais jovem você for, você pode colocar mais dinheiro em renda variável, para tomar mais riscos e talvez fazer mais grana. Quanto mais maduro você for, é mais arriscado. Pensem nisso, tornem isso um trabalho de verdade. Isso para quem quer se profissionalizar. Para quem quer só se divertir, boa diversão pra vocês. É o que eu faço hoje com o poker, quando eu quero relaxar coloco um dinheiro ali e, se eu perder, não tem problema, pois estou comprando diversão. Agora, se você quer se profissionalizar, faça um planejamento decente.

Escrito por:

Rafael Dornas

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