Entrevista com Danilo Pereira – “O Brasil tem tudo para ser o top 3 de apostas do mundo”

Danilo Pereira é punter, investidor esportivo, criador de conteúdo, educador e empreendedor.
Redator
Rafael Dornas
Publicado em:
09/09/21

Danilo Pereira é punter, investidor esportivo, criador de conteúdo, educador e empreendedor. Corintiano de coração, entrou para o mundo das apostas esportivas há mais de 14 anos. A paixão pelo futebol e a curiosidade por um mercado até então pouco conhecido pelos brasileiros levou Danilo a fazer suas primeiras apostas. De lá pra cá, não parou mais.

Hoje, Danilo é referência no mundo das apostas esportivas no Brasil – além dos milhares de inscritos no seu canal do YouTube, também leciona cursos online voltados para a formação de apostadores profissionais. Sempre de olho no mercado da bola, ele luta para quebrar o paradigma de que aposta esportiva é dinheiro fácil e rápido, e acredita que "o Brasil tem tudo para ser o Top 3 de apostas do mundo".

Os detalhes você acompanha abaixo na entrevista completa que o betting expert concedeu para a equipe do Odds Scanner.

Odds Scanner: Danilo, seja muito bem-vindo! Pra começar, muita gente te chama de trader esportivo, mas na realidade você é um punter, um apostador. Explica pra gente a diferença? 

Danilo Pereira: O trader esportivo virou uma expressão mais conhecida, mas existe uma grande diferença. O trader é, na verdade, a pessoa que trabalha com as exchanges, como por exemplo a Betfair, que seriam intercâmbios aonde você compra e fecha posições no mercado. 

Já o punter não necessariamente atua com essa metodologia. Ele até pode fazer entradas e saídas no mesmo evento, mas ele tem outra tendência de fazer apostas em uma modalidade mais rígida, onde ele coloca a própria stake e normalmente vai contra o próprio bookmaker, e não contra os outros usuários que fazem parte de uma exchange.

Odds Scanner: Como você começou no mundo das apostas? Como foi o seu primeiro contato?

Danilo Pereira: Eu comecei já vai fazer 14 pra 15 anos. Como a maioria dos brasileiros, eu sempre fui apaixonado por futebol. Um dia eu vi uma propaganda em um aplicativo de futebol no celular – na época não tinha propaganda de apostas na TV – e conheci um website. No início eu comecei a apostar apenas para brincar. Passei um tempo perdendo dinheiro, ganhando e perdendo, tentando entender como tudo aquilo funcionava. No começo a gente acha que é um jogo, depois percebe que tem um viés de investimento. Foi quando eu comecei a adotar algumas estratégias, aprender o conteúdo, principalmente em fóruns europeus, algo que hoje nem existe mais. E então eu vim profissionalizando aquilo que eu entendi que era uma paixão, e que dava para ganhar dinheiro e levar aquilo à sério, que não era só uma brincadeira. Eu vi que dava para viver de apostas esportivas. 

Tudo isso aconteceu há uns 15 anos. Hoje a cena é completamente diferente. Antes, nem YouTube existia. Hoje, além de ter tanto Youtube quanto outras mídias, tem muita criação de conteúdo, muito tipster, muito punter, muito fórum. Não só no Brasil, como no mundo, as bets evoluíram muito. É outro cenário.  

Odds Scanner: Quais foram os erros que você cometeu no início da sua carreira e que você vê apostadores iniciantes cometendo também?

Danilo Pereira: Eu nunca tive muito dinheiro para apostar no início. E eu sempre fui muito controlado. Eu sou aquele tipo de cara que recebia a mesada do pai e tinha que fazer o dinheiro durar o mês inteiro, então eu nunca gastei mais do que eu tinha. Por isso, eu consegui criar uma casca grossa no início para não perder dinheiro em grande velocidade. Eu perdia, mas eu perdia aprendendo. Se eu tinha R$100, demorava um mês inteiro para perder, e perdia. Porque são os erros de iniciantes; a gente acha, por exemplo, se perdeu dinheiro no jogo do Campeonato Brasileiro que conhecia, então precisa recuperar rápido… O iniciante tem muito disso, ele tenta apostar em uma liga que ele não tem a menor ideia do que está acontecendo, ele não está vendo o que a gente chama de +EV, que é o valor em cada uma das odds, procurar um preço desajustado. Então, eu apostava naquilo que eu achava que ia dar certo, pelo conhecimento futebolístico, que é um dos maiores pilares dos erros. 

Muitas vezes, a pessoa vê uma propaganda e pensa: "Eu sei muito de futebol, então eu vou ganhar dinheiro com aposta". Esse já é o primeiro passo para dar errado. Eu também cometi esses erros, como muitos outros. E também tem os erros emocionais, principalmente quando estamos perdendo nas apostas e não temos paciência para recuperar. No início, é comum querer recuperar o que apostamos a qualquer custo – o iniciante coloca uma entrada de aposta duas ou três vezes do valor. Por isso, eu também acho que o lado emocional é um grande obstáculo para qualquer iniciante.

Odds Scanner: E quanto tempo demorou para você virar a chave, ou seja, se sentir confiante e fazer das apostas esportivas a sua profissão?

Danilo Pereira: Eu comecei a ganhar dinheiro com apostas antes da minha virada de chave, porque eu tive uma oportunidade, logo no início da minha carreira, de trabalhar para um grande investidor. Então, eu não tinha o meu próprio dinheiro com a minha própria banca, mas eu trabalhava com grandes stakes já naquela época. Com isso, eu tive a oportunidade de me estruturar financeiramente sem ter uma própria banca, e foi assim de um ano e meio pra frente. 

Mas a virada de chave foi quando eu larguei o meu trabalho na época. Eu sou formado em Tecnologia da Informação e trabalhei muitos anos na área. Depois de quatro ou cinco anos atuando como apostador, eu resolvi criar a minha empresa. Eu brinco que era a "Empresa Danilo" – já que eu saí de uma empresa e decidi que eu seria uma outra. A partir daí, eu comecei a procurar trabalhos na área, escrevendo prognósticos de apostas, por exemplo. Então foi mais ou menos depois de uns cinco anos que eu abandonei minha outra profissão para me dedicar totalmente ao universo das apostas.

Odds Scanner: Naquela época as apostas esportivas eram algo muito novo no Brasil. Como foi a reação das pessoas ao seu redor quando você falou que virou apostador profissional, e como é hoje em dia?

Danilo Pereira: Eu tive muita sorte de nunca ter uma barreira familiar em relação à essa profissão. Hoje em dia, quando alguém diz que vai virar apostador, todos pensam que ele vai apostar algum bem material, como o próprio carro, por exemplo. Eu não passei por isso, mas sei que isso acontece muito. Eu sempre fui uma pessoa muito transparente. E eu consegui mostrar para as pessoas que as apostas esportivas eram algo diferente do que elas viam, e essa é a dica que eu dou para quem está iniciando agora. É normal terem esse preconceito. Então, é importante mostrar para as pessoas ao seu redor o viés do investimento. Selecione alguns conteúdos relevantes, pessoas que são criadoras de conteúdo e apostadores há algum tempo, e mostre que as apostas não são simplesmente o gambling, mas muito mais do que isso. É como se fosse um day trader ou um especialista em bolsas de valores, ou alguém que trabalha nessa área. E aí você vai tirando esse viés do jogo.

O grande preconceito é porque tem um jogo no meio. Mas o jogo, na verdade, não é jogado nas apostas, ele representa apenas um número. Quando você passa para as pessoas que não é feliz quem descobre o vencedor, mas sim quem interpreta os númerosEssa é a jogada do mercado. E eu sempre soube fazer isso, então fica a dica.

Odds Scanner: No seu início de carreira, quando ainda não tinha muito conteúdo aqui no Brasil sobre o assunto, onde você buscava informação? Como foi esse processo?

Danilo Pereira: A Europa já tinha um mercado de apostas mais desenvolvido, principalmente na Inglaterra, onde já existe um modelo de regulamentação muito bom há vários anos. O que eu fazia era pesquisar no Google os tópicos que eu queria aprender, até encontrar fóruns e começar a me relacionar com apostadores. Eu tinha um grande amigo por lá, com quem aprendi muito sobre o universo das apostas esportivas. Na época, eu participava de fóruns que tinham diferentes níveis, e ia subindo categorias. Então, eu fui aprendendo com quem já estava no mercado há muitos anos. Os fóruns de Portugal também foram importantes na minha trajetória. Mas lá, infelizmente, o mercado se fechou muito, mudou a regulamentação. Aliás, isso muda muito no mundo das apostas, os países vão legislando de forma diferente. Mas em resumo, o que fiz foi estudar lá fora para depois produzir no Brasil. 

Odds Scanner: Em algum momento você pensou em desistir?

Danilo Pereira: Não, nunca pensei em desistir. Houve momentos em que eu achei que aquilo tudo era muito mais difícil do que eu imaginava, mas eu nunca pensei em desistir. Eu só me dei conta que realmente era muito difícil. É importante passar o recado para as pessoas de que esse ramo não é fácil. 97% dos apostadores são perdedores porque eles não têm metodologia. Demora um pouco para você encontrar essa metodologia, mas depois que você encontra, você foge desses 97%. E eu não tinha ideia de que a grande maioria era perdedores, eu achava que eu era "o cara".

Odds Scanner: Vamos falar então sobre metodologia. Como funcionam as precificações e a busca pelas apostas de valor? Explica um pouco pra gente sobre os métodos que você usa, e quais mercados você acha que são os mais lucrativos? 

Danilo Pereira: Eu gosto de falar que existem três principais pilares para fazer com que um apostador seja profissional e tenha lucro. Um deles é entender o preço do evento. Por exemplo, você está lidando com uma máquina que criou os números e que colocou as cotações para que um time vença o outro. Você precisa encontrar gaps que, nesses números, estejam incorretos. Então, se você está vendo um mercado com o valor de 1,80 e pra você o justo era 1,60, você tem um desajuste, e é basicamente isso que são as apostas de valor. Um dos pilares disso é a precificação. Entrar contra as probabilidades é a pior coisa que um apostador pode fazer. Ele pode até ganhar no curto prazo, mas ele devolve depois. A maioria acaba até ganhando quando conhece as apostas, por entender de futebol, mas a matemática é muito dura. 

As outras metodologias que eu falo muito é a gestão de banca, que é saber dividir seu dinheiro e o quanto vale cada uma das suas entradas. E também tem o lado emocional do apostador, que conta muito, já que você acaba dando um clique a mais, está com medo, ou está muito confiante… são muitos pontos que tem que ser ajustados para você se tornar lucrativo – algo que você até pode se tornar sem ter esse mindset, mas você devolve depois. Então, para ter consistência, é preciso  ter essa experiência.

Sobre mercados, eu acho que é algo muito particular e, por isso, eu acredito que cada um tem que encontrar o seu próprio "quadrado". Eu, por exemplo, me especializei no mercado asiático de handicap – desde o início eu sempre fiz isso. Mas, de repente, um apostador é bom em escanteios – o que eu não sou. Só é preciso tomar cuidado porque o mercado muda muito. Então, às vezes, a casa de apostas onde ele tem conta passa a não oferecer o mercado de escanteios. Por isso, tem que estar sempre estudando outras possibilidades e entender como é essa virada de mecanismo dentro do próprio mercado em si. Mas, como eu disse, é muito pessoal. Acho que vale cada um escolher e, principalmente, testar.

Odds Scanner: Como é o seu processo de análise de jogo, e o que você tenta passar sobre isso para os seus seguidores?

Danilo Pereira: Às vezes, as pessoas me procuram e dizem que não entendem nada de futebol, mas querem começar a apostar. Isso é muito complicado. Quando é o contrário, é mais tranquilo – por exemplo, se alguém não entende nada de apostas, mas entende de futebol. Aí tudo bem, porque você consegue aprimorar. Mas ensinar futebol para uma pessoa é muito difícil. É possível aprimorar, claro, a leitura de jogo e estudar sobre uma liga. Mas quando o aspirante a apostador não tem a mínima noção do que é o esporte… tem gente que vem falar comigo e não sabe nem as regras. Como você vai estudar um preço, se você não sabe como é jogado um jogo? Acho que esse é o ponto de partida: você precisa saber o mínimo de futebol. 

A leitura de jogo vem muito com a experiência. Ela vai contar muito no live (aposta durante o evento). Por exemplo, você acha que determinado jogo é para over – em que vai sair muitos gols. Mas, depois de cinco minutos de jogo, você se dá conta que, na verdade, aquele não é um jogo over. 

Eu tenho um processo de estudar as próximas três rodadas do campeonato; deixo os preços prontos e atualizo diariamente. Então, uma vez por dia, eu vejo os acontecimentos – se tem jogador machucado, se mudou alguma coisa na equipe, etc, e faço os ajustes finos. Eu levo uma média de 15 a 20 minutos para analisar cada partida, deixo as três próximas rodadas prontas, e diariamente faço esse ajuste fino. Mas é importante não se basear no tempo em que eu levo de preparação. Quando eu comecei, levava mais de uma hora para analisar um jogo. Às vezes, um iniciante me escuta falar em análise de jogo em 15-20 minutos e desanima. E não é bem isso, tem que ir com calma.

Odds Scanner: Vamos falar sobre o método de cobertura durante um live. Muita gente diz que isso é como o trade. Quando você usa essa estratégia?

Danilo Pereira: O trade em si vai usar a cobertura sempre. Eu utilizo porque é algo que um punter pode utilizar como bônus, que faz parte do universo do trade. Existem muitos punters que não fazem isso, e quando você não faz cobertura, você depende exclusivamente daquilo que você analisou. Por exemplo, em uma partida entre Real Madrid e Barcelona, você precificou que o Real Madrid é o favorito e apostou nele. Depois que começa o jogo, você se dá conta que a sua análise não foi correta. Às vezes, não significa que você fez algo errado, mas o futebol, o evento em si se transforma. E, naquele dia, o Real Madrid não estava jogando bem. O que você faz? Você pode sentar e chorar, pode ir ao shopping e ver o resultado da aposta depois. Eu prefiro corrigir essa aposta e tentar encontrar soluções no mercado que me ajudem em relação à minha entrada no Real Madrid – ou que ela seja retirada, ou seja coberta no sentido de obter algum lucro, ou simplesmente aceitar. Então cobertura é isso. 

O que posso dizer é que eu não conheço nenhum apostador profissional a longo prazo que trabalhe com grandes investidores que não faça cobertura. Não estou aqui para dizer o que cada um deve fazer, mas eu sempre fiz e continuo fazendo. 

Odds Scanner: Em quais casas de apostas você costuma apostar e o que você acha que é essencial ter em um bookmaker?

Danilo Pereira: O essencial é ter boas odds. Já é difícil o apostador ser vencedor, e se ele não tiver um bom preço é mais complicado. Tem que ter um bom suporte, o apostador precisa dessa confiança. Também precisa ter bons métodos de pagamento, isso é muito importante. E, claro, o seu mercado tem que fazer parte do universo da casa de apostas – não adianta eu ser bom em escanteio e trabalhar em um bookmaker que não valoriza esse mercado. 

Eu trabalho hoje com a PunterPlace, que é uma plataforma que eu represento aqui no Brasil, mas já trabalhei vários anos com a Pinnacle, uma bookmaker com formato de grandes odds, que não limita os usuários, é bem legal. E também recomendo para quem está iniciando a Sportsbet.io, uma gigante agora no mercado brasileiro. Existem muitas outras boas opções além dos meus patrocinadores. Aliás, o mercado brasileiro vem trazendo cada dia melhores opções. Acho que vale a pena fazer uma pesquisa e testar. 

Odds Scanner: Você já se estabilizou nos seus métodos e estratégias de apostas ou está sempre em busca de algo novo?

Danilo Pereira: Eu estudo e aprendo todos os dias, principalmente quando faço vídeos e recebo feedbacks de seguidores e de alunos. Eu ensino e aprendo, é incrível. Eu acho que o mindset de crescimento independe do status que você estiver na sua carreira. Eu acredito que posso crescer muito mais e, enquanto eu estiver crescendo, vou continuar aprendendo. O dia em que eu parar de aprender significa que nada mais faz sentido. E quando a gente acha que sabe muito, a gente acaba tomando um tombo e pode se surpreender. Então, eu sempre me atualizo no mercado. Eu sou um profissional no mercado de Asia Handicaps e nesse mercado eu não devo largar mesmo – é o mercado que é o main job das apostas, os maiores stakes estão ali, então eles me permitem que eu fique ali pra sempre, mas não fique só nisso. Principalmente em relação à outras modalidades. Eu não sou especialista em NBA, por exemplo, mas eu gosto muito. Então, tento me aprimorar quando posso.

Odds Scanner: A gente sabe que você é Corintiano. Você já deixou a emoção tomar conta quando foi apostar, por exemplo, em um jogo do seu time? Quais são os sinais que demonstram que a emoção está tomando conta na hora de apostar?

Danilo Pereira: Isso fazia diferença para mim quando eu iniciei – nessa ideia de jogo, sorte, azar… Até entender que é investimento, eu sofria com jogos do Corinthians. Às vezes, não queria apostar, ou apostava demais. Mas isso acabou muito rápido. 

Eu acho que você tem dois caminhos para escolher, e tem que ser sincero com você mesmo: ou você é capaz de controlar suas emoções ou você não é. Não existe meio termo. O que digo para as pessoas é: se você não gosta de apostar contra, não aposte nem contra e nem a favor. Esqueça e pare de analisar jogos do seu time. 

Eu, particularmente, acho isso uma besteira e uma perda de oportunidade de ganhar dinheiro. Digo isso porque nós conhecemos muito mais o time para o qual torcemos do que os outros. Eu nasci vendo o Corinthians jogar, sei dizer como vai ser o jogo com apenas dois minutos em campo. Então, isso pesa favoravelmente para mim. E eu sou apaixonado pelo meu time, tenho tatuagem do Corinthians, mas eu gosto muito mais de ganhar dinheiro, de garantir a qualidade de vida da minha família e da próxima geração do que torcer para o meu time. Acho que isso tem que estar bem claro para cada um. 

Odds Scanner: Vamos falar agora sobre o mercado de apostas no Brasil. Cada vez mais casas de apostas estão patrocinando clubes de futebol por aqui. Você acha que isso tem ajudado a desmistificar a visão do brasileiro em relação às apostas esportivas?

Danilo Pereira: Eu acho que, nesse sentido, não. Isso tem ajudado em outras questões como o próprio esporte, o futebol, financeiramente… as casas de apostas tem uma grande influência em gerar um público, isso traz as pessoas para dentro do esporte. Tem muita gente que começa a gostar de modalidades que nunca imaginou que fosse gostar e, às vezes, vai até praticar. Isso tudo é muito bom. 

Mas, infelizmente, eu acho que não está ajudando a desmistificar o preconceito, até porque o Brasil está numa crescente gigante e a gente vê muitos jogos manipulados e comprados, o que é vergonhoso. Por isso que todo o país que passa por esse processo de regulamentação também tem que se preocupar com esse background. Tem que ser feito um controle policial em volta disso e tomar cuidado para que as pessoas não se viciem pelo jogo – isso é um problema que a Inglaterra passa até hoje. Então, criar uma entidade que possa apoiar essas pessoas, por exemplo. Acho que tem muito a melhorar ainda. Ao mesmo tempo em que se desenvolve a cena, também tem muitos pormenores que são deixados para trás.

Odds Scanner: Em relação à regulamentação, vamos falar sobre a lei, sancionada recentemente pelo presidente Jair Bolsonaro (sem partido), que muda a tributação das apostas esportivas e passa a considerar o lucro bruto da operação (GGR) no lugar da soma de todas as apostas efetuadas. Qual é a expectativa daqui pra frente após essa mudança?

Danilo Pereira: Em algum momento eu achei que fosse tudo por água abaixo. O processo começou bem e acabou sendo descartado. Porém, a pressão foi tão grande pelas casas de apostas, apostadores e clubes, que fez com que a situação mudasse. Eu conversei com pessoas do Senado e falei: "vocês tem a faca e o queijo na mão." O Brasil está regulamentando depois de todo o mundo, a opção é fazer direito ou fazer errado. Fazer errado seria deixar o mercado clandestino dominar – não emitir licença pra ninguém, o dinheiro não ser recolhido no Brasil, e as pessoas continuarem apostando fora do país. E existe o caminho em que todos ganham – ganha o bookmaker, o apostador, o clube… parece que, com essa mudança para o modelo GGR, que entregamos como sugestão, nós teremos o melhor caminho. 

Eu penso que o Brasil tem tudo para ser o Top 3 de apostas do mundo. E digo Top 3 tranquilamente, se não for o maior. Nós temos um público apaixonado por futebol, é muita gente, e que se engaja fácil nas redes sociais. Eu vejo de maneira super positiva esse momento que a gente vive. Agora, tem que esperar para ver. A regulamentação está próxima, acredito que saia até o final do ano ou meio do ano que vem. E vamos torcer.

Odds Scanner: Vamos falar agora sobre o seu trabalho como influenciador digital. Você também tem um curso online, o "Aposta de Valor". Como é para você produzir conteúdo e fazer parte da formação de profissionais da área?

Danilo Pereira: Eu tenho um treinamento que visa trazer a pessoa do nível "zero" para, pelo menos, o nível intermediário, e outro que busca elevar o intermediário ao profissional. Já formei cerca de três mil alunos, mas poderia ter formado 50 mil se a mensagem fosse diferente. Quando eu abro as vendas dos meus treinamentos, eu aviso de antemão, para aqueles que acham que a jornada será fácil, que talvez seja melhor aplicar o dinheiro em outro lugar. Eu me preocupo muito com a responsabilidade de lidar com o dinheiro das pessoas. Tem gente que diz pra mim: "Agora vou ficar rico porque descobri seu curso." E isso é um grande problema – tem que explicar para as pessoas que não é bem assim. Depende muito de cada um, do estudo, da dedicação, do tempo… Eu digo que é possível que a pessoa ganhe e seja feliz com isso, mas não é simples. 

O curso Aposta de Valor é o resultado de 14 para 15 anos de experiência, com muita responsabilidade para que ninguém ache que tudo isso é fácil, ou para não ir atrás de propagandas falsas que cada vez mais aparecem na Internet e prejudicam quem trabalha sério.

Criar conteúdo para mim é uma delícia. Eu sou fanático por ensinar, na minha família tem muitos professores, eu aprendo muito ensinando. Posso dizer que essa é a qualidade de vida que eu realmente buscava para mim. 

Odds Scanner: Ao que você atribui o seu sucesso? O que te diferencia de outros apostadores profissionais?

Danilo Pereira: Não sei de outros apostadores, mas eu sou um ser humano bom. Tenho bons hábitos, bons costumes, trato todo mundo igual, gosto de bater papo com qualquer pessoa. Eu acho que isso faz, naturalmente, com que as coisas sejam boas na vida de qualquer um. Eu acredito que o ser humano, quanto melhor ele é com ele e com os outros, a tendência é progredir. Então, tento fazer isso de forma natural e o universo me retribui. Quanto mais eu trabalho, mais sorte eu tenho.Eu falo brincando, mas é verdade. 

Odds Scanner: E mesmo hoje em dia, com todo o seu conhecimento, quais os principais desafios que você enfrenta? O mercado ficou mais competitivo? Está mais difícil de apostar?

Danilo Pereira: O mercado se torna, a cada ano, mais difícil. Existe o smart market, que é uma expressão muito famosa na Europa – significa que o mercado não quer que você ganhe. Quando ele percebe que existe um gap, ele corrige. Hoje, tem muitos robôs infestando o mercado, então fica mais difícil achar um preço desajustado… Em termos de empreendedorismo, a gente vive um momento muito bom para empreender no Brasil nessa área. Mas, ao mesmo tempo, tem mais competitividade. Então, tem que seguir inovando. O Brasil vive um momento ruim financeiramente, você tem que mexer muito em preço… ou seja, tem obstáculos. Você tem que mergulhar a fundo e tentar entender melhor os números. Existem muitas barreiras e muitos obstáculos que vão fazer parte do processo, e não teria graça se não tivesse, faz parte também. Isso tudo faz com que você inove cada vez mais, e é isso que vai empurrando também o empreendedor. Se você dominar tudo, qual é a graça? É legal ter alguém competindo com você também.

Odds Scanner: Para finalizar, o que você tem a dizer àqueles que estão começando agora e acham que vão ganhar dinheiro rápido e fácil com as apostas?

Danilo Pereira: O que eu tenho a dizer para essas pessoas é que elas são muito bem-vindas para aprender. Se você tem um sonho e quer ganhar, venha tentar e estudar. Mas isso de ficar milionário da noite para o dia não existe, senão todo mundo estaria rico. Antes de mais nada, as pessoas tem que se perguntar: "Qual a razão de existir tantas casas de apostas?" Existem porque muita gente perde dinheiro e transforma esse mercado em um negócio muito lucrativo. O apostador tem a tendência de perder se não se preparar. 

Então, tem que tirar essa visão de que dá para ganhar muito dinheiro com pouco esforço. Dinheiro gera dinheiro. Se você tem muita grana, provavelmente vai fazer muita grana se estudar. Se você tem pouca grana, você vai ter que estudar mais ainda, para depois ter uma certa rentabilidade. 

Eu tenho um vídeo sobre o seguinte: "Quero ganhar R$5 mil por mês." Você sabe a meta, mas para chegar lá você precisa de um colchão financeiro. Você não vai ganhar R$5 mil por mês apostando R$200. Você tem que planejar esse crescimento gradualmente para chegar na meta final. Se você segue uma trajetória estipulada, o processo é muito mais seguro. Eu encorajo que as pessoas venham paras as apostas, mas que venham com cautela e, principalmente, apostando muito pouco no início, quase que simbolicamente, para aprender a trabalhar primeiro.

 

Escrito por:

Rafael Dornas

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